domingo, 30 de outubro de 2011

Transformação de Focalizadores! Paula Falcão.

Síntese




Cheguei para esse módulo com muitas indagações e expectativas, pois os termos FOCALIZADOR E FACILITADOR, são muito usados nos Jogos Cooperativos, para quem está à frente. E qual será o papel de cada um? Existe realmente uma diferença?
Como chamamos a pessoa que está à frente promovendo, coordenando, auxiliando o grupo que joga?
Como será coordenar um processo de jogo cooperativo? Como fazer com que o grupo alcance seu objetivo?
Por trabalhar em uma escola de formação em tempo integral, onde o objetivo é formar um cidadão, crítico, pesquisador, autônomo, reflexivo, protagonista da sua história, etc. Entendo que quando proponho um jogo cooperativo, o meu papel é simplesmente facilitar para que esse jogo aconteça, sou um mediador do processo de aprendizagem. Falcão (2002) nos fala do papel do facilitador:
“Facilitador é aquele que facilita o processo de aprendizagem. O facilitador apenas ajuda o outro a aprender, e não obrigatoriamente é o detentor do conhecimento”.
E é realmente isso que faço em minhas práticas. Alias, sou facilitadora e focalizadora, pois o papel do focalizador é deixar que o grupo não perca o foco, e nesse momento entro também como mediadora. O termo focalizador, segundo Falcão (2002), surgiu na comunidade de Findhorn, na Escócia. E tem a ver com manter o foco.
Segundo Brown (1994):
“O facilitador deve criar um ambiente para o jogo, deve acender o fogo. Se um facilitador sugere um jogo seca e desinteressadamente, o grupo não vai responder. É preciso mostrar com alegria, entusiasmo e riso que o jogo é cooperação e celebração”.
“Facilitar implica ter uma atitude de empatia: a capacidade de colocar-se no lugar do outro; de assumir seu lugar. Significa escutar e, partindo disso, formular nossa mensagem, levando em conta o destinatário”. (Brown, 1994).
A palavra facilitar tem a ver com uma relação horizontal de Educação, não com aquela que no passado tinha a figura do professor como dono absoluto do saber, ele mandava e seus alunos executavam, sem perguntar nem questionar. A cooperação é o avesso disso, pois quanto mais o grupo perguntar, interferir, e mudar, melhor para o objetivo final que é a felicidade aliada ao aumento da auto-estima, e se posso me colocar num grupo, e esse mesmo grupo aceita minhas idéias com certeza me sinto fortalecido para tentar de novo. Corro até o risco de que em alguns momentos não ter o que digo aceito, mas só o fato de poder me colocar sem medo, já me deixa livre para criar. E conforme a aula passava, eu podia ver minha prática na escola onde atuo, pois para minha surpresa, um dia pedi aos que escrevessem uma prática que eu faço que eles gostem que achem significativa para o aprendizado. E a maioria deles escreveu que era o círculo no começo com a rodada de “boas notícias” e no final na roda de “loveback”termo usado por Brotto (Estreitar os laços). E é nesse momento que paro para ouvir e perguntar aos educandos dando a oportunidade de comentar o que sentiu expor suas idéias e sugestões na roda e a pessoa sente – se importante, sem medo de errar ou de ser rejeitada. Todos são iguais, sem diferenças, sem o melhor ou pior, certo ou errado, e isso é muito importante tanto para o educando como para o educador, pois exercitamos o relacionamento interpessoal e o diálogo. A aprendizagem interpessoal é a conseqüência das relações criadas em um ambiente com outros sujeitos através da manifestação da linguagem.É muito bacana nesse momento deixar claro para os educandos os objetivos, o que eu queria alcançar, se não corre o risco de ficar o jogo pelo jogo.
 E tudo isso, remete – me a pensar na importância do círculo na educação. Faz me ver o círculo na sua essencialidade, como símbolo prenhe de significados para uma prática integradora. Ou seja, mais do que fazer a roda e chamar para o encontro, por si só entra em jogo o exercício de uma atitude e um pensamento circular. Pensar circularmente significa não pensar em linha reta, na afirmação da verdade, da única voz, do conhecimento absoluto. Significa abrir-se ao diálogo, ao acolhimento da dúvida e da diversidade, à construção de múltiplos enredos afirmados no encontro das singularidades de crianças e adultos, de alunos e professores. Não é uma técnica, procedimento metodológico, mas um modo de agir, de ser, de acolher. O círculo simboliza a unidade e a totalidade, e também não existem melhores ou piores todos comungam de um mesmo ideal, em que todos se ajudam para superar seus erros.

Segundo Brown (1994), as características que esse facilitador/focalizador deveria ter:
Comunicativo: mais do que explicar o jogo, o facilitador tem que comunicar o sentido do mesmo. Significa transmitir valores que ajudam a criar um ambiente.
Amável-amigo: corresponde a um contexto de união e solidariedade, o facilitador também é amigo, companheiro, uma pessoa a mais que se diverte com o jogo.
Criativo: engloba tudo, mas se refere especialmente ao momento em que se sugere um jogo. O facilitador deve estar atento para saber quando sugerir (ou não), um jogo, qual será, que adaptação deve ser feita.
Flexível: é preciso mudar algo? Trata-se da capacidade de mudar, iniciar, suspender etc., no momento em que ocorre um imprevisto.
Alegre: os jogos devem ser alegres, e o facilitador deve motivar essa alegria.
Sensível: ao grupo, as suas necessidades e ao processo que este vive.
Paciente: porque, às vezes, é preciso esperar, visto que as coisas não têm o mesmo ritmo que queremos.
Sensual: estar atento a todos os sentidos.

O facilitador/focalizador deve ser o mediador entre o conhecimento e o grupo que joga. O facilitador/focalizador primeiro questiona o grupo sobre o que acabaram de fazer, tentando tirar do grupo os objetivos da atividade. Se o grupo não der a resposta esperada, então o papel do facilitador/focalizador será o de comunicar ao grupo aquilo que tinha em mente quando focalizou o jogo. Isto é importante, pois, fazendo isso, o grupo poderá estabelecer uma relação entre o jogo e a vida.
Devemos sempre escutar as pessoas que jogam porque agindo assim nos tornamos alguém significativo e também conquistamos a confiança do grupo.   Quando abrimos espaço para que as pessoas falem, cada um se sente aceito, importante e pertencente ao grupo. Enquanto educadores devemos ensinar as pessoas a escutar e também a falar, pois só assim elas poderão se expressar livremente e passar a se conhecer melhor e também a conhecer as pessoas que jogam.
O módulo surpreendeu e eu percebi que já faço quase tudo que foi mostrado por Paula Falcão em minha prática, e isso só faz crer que eu estou no caminho certo!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

RESENHA LIVRO JOGOS COOPERATIVOS - O Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência

 Livro JOGOS COOPERATIVOS - O Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência
Autor: Fábio Otuzi Brotto - 3ª ed.



Em uma época onde a competição é tanto estimulada, o livro de Brotto, surge como um desafio na divulgação aberta da filosofia da cooperação. Esse pensamento é expresso já no início do livro, onde o autor abre mão dos direitos autorais e autoriza a reprodução a quem quiser divulgar os jogos cooperativos. Fantástico!
O objetivo do autor com o trabalho é contribuir para que as pessoas possam resgatar o seu potencial de viver juntas e realizarem objetivos comuns, aprendendo a viver uns com os outros, ao invés de uns contra os outros. Trata-se de um estudo filosófico-pedagógico acerca dos jogos cooperativos para promover a ética da cooperação e desenvolver as competências necessárias para a melhoria da qualidade de vida atual para a vida das futuras gerações. 
O livro é organizado em cinco capítulos: O Jogo numa Sociedade em Transformação. A Consciência da Cooperação. Jogos Cooperativos. Jogos Cooperativos: uma Pedagogia do Esporte. O Jogo e o Esporte como um Exercício de Convivência. O livro contém, considerações finais, bibliografia e com – Nexos ( exemplos de alguns Jogos).
No 1º capítulo “O Jogo nma Sociedade em Transformação”, Brotto expõe os conceitos e abordagens de jogo, fazendo uma relação dele com as dimensões do ser humano e uma relação profunda com a vida humana, afirmando que: “Jogamos do jeito que vivemos e vivemos do jeito que jogamos”. Por isso, a importância de mudar a nossa mentalidade para transformar a sociedade. 
A partir do 2º capítulo “A Consciência da Cooperação”, Brotto fala sobre a diferença gritante que há entre a cooperação e a competição, quais os alcances, os objetivos e os sentimentos envolvidos em uma situação competitiva e em uma situação cooperativa. Comenta também sobre alguns mitos que surgem quando falamos em cooperação, deixando bem claro que há alternativas, não porque a competição é ruim e a cooperação é boa, mas porque a cooperação é mais necessária se queremos um mundo melhor. “Não sou contra a competição, sou francamente a favor da cooperação ”. O capítulo termina com um apelo para que o desenvolvimento da cooperação seja desenvolvido por todos, mostrando que a sociedade cooperativa é uma possibilidade, basta trabalharmos com boas ações, além das nossas boas intenções.
No 3º capítulo,  Brotto, dedica-se a falar dos “Jogos Cooperativos” com profundidade, da sua Origem e Evolução, de como esse movimento foi espalhando-se pelo mundo até chegar ao Brasil. Aqui no Brasil a trajetória dos jogos é mostrada de forma cronológica. Mostra ainda os Conceitos e as Características dos jogos cooperativos, principalmente contrastando com as características dos jogos competitivos. Jogos cooperativos são bem mais que jogos desenvolvidos em sala de aula, ou em quadras, por isso, Brotto mostra a visão que movimenta os jogos cooperativos e os Princípios Sócio-Educativos da Cooperação que tem comoprincipais eixos da Pedagogia Cooperativa a dinâmica de ensino-aprendizagem que Brotto chma carinhosamente de Espiral de Ensinagem Cooperativa, compondo três elementos essenciais: a Convivência, a Consciência e a Transcendência.
“Exercitando no jogo e no esporte a reflexão criativa, a comunicação sincera, a tomada de decisão por consenso e a abertura para expe-rimentar o novo, todos podem descobrir que são capazes de intervir positivamente na construção, transformação e emancipação de si mesmos, do grupo e da comunidade onde convivem.” 
No 4º capítulo “Jogos Cooperativos: Uma Pedagogia do Esporte”, o autor discorre sobre o esporte como algo muito presente na experiência humana e como conteúdo da disciplina de Educação Física. Ao esporte ele une a pedagogia, transformando-a em uma linha de pesquisa que aplica a ciência do esporte aos princípios sócio-educativos para favorecer o processo de ensino-aprendizagem. É o uso do esporte como meio de educação. Ainda nesse capítulo Brotto fala da importância da cooperação no esporte ensinando ao pedagogo do esporte todas as categorias de jogos cooperativos, os critérios para formação de grupos, a visão sobre premiação e as ações co-opetitivas, que são ações de criação e organização de eventos grandes de cooperação. 
No 5º capítulo, o autor relaciona tudo que foi exposto ao exercício da convivência, e estimula o leitor a desejar e lutar por um mundo melhor, sem perdedores ou vencedores, mas um mundo onde todos vencem juntos. Um verdadeiro desafio na construção de um mundo onde nós nos importamos com o outro, porque ele é parte de nós. 
Em suas considerações finais, Brotto enfatiza que os jogos cooperativos não terminam ali, eles continuam, “é impossível conceber um apito final para este Exercício de Convivência”. Todos são estimulados a vivenciar e a divulgar essa pedagogia da cooperação,
somos muito melhor
quando compartilhamos a vida
com quem a gente ama.
Essa frase diz tudo!